Da janela da sala onde trabalho, vejo as palmeiras serem soadas pelo sopro das tempestades e entre as copas observo um pássaro pequeno, quase sem cor. A chuva derramava-se sobre a pele da árvore e o pássaro permanecia intacto. Quando a chuva parou, o pássaro abriu suas asas e, nesse momento, vi seu voo, bateu sobre a gravidade terrestre e foi embora.
Esse simples momento me trouxe uma profunda reflexão em relação ao viver. Muitas vezes somos esse pássaro, procurando uma toca para se proteger da chuva, mas nem sempre fazemos isso, em certas situações voamos com a chuva, recebendo fortes gotas sobre nossas asas, sobre nosso corpo. Por que fazemos isso? Não seria melhor e mais seguro permanecer na árvore até a chuva pairar?
É de necessidade humana que passemos pelo sofrimento, receber gotas que balancem nossos voos, isso não significa que devemos, sempre, nadar nos dias de chuva, mas sim reconhecer que há momentos em que é necessário se abrigar em uma raiz e esperar. Esperar o tempo, a poeira, a chuva, o predador irem embora. Não é questão de se acovardar, ou temer contra o mal, mas agir na sabedoria da espera, do talento em observar e contemplar a natureza funcionando sem interferências humanas ou divinas
Já se abrigou hoje?